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Contexto Social: O nascimento de Sobrevivendo no Inferno.


Mano Brown em foto de divulgação do disco Sobrevivendo no inferno (Foto Klaus Mitteldorf)


O simbolismo da entrada de Sobrevivendo no Inferno como material obrigatório de estudo dentro das academias é o retrato do reconhecimento da relevância de obras de origens não academicistas por parte de uma própria academia elitista, onde se é necessário se aprofundar em uma realidade que a mesma elite ignora ou finge não existir. Realidade essa que pouco mudou, Sobrevivendo no Inferno é atual após 24 anos.


Para analisarmos a relevância dessa obra, é necessário que entendamos o contexto social, político, econômico e religioso em que ela nasceu já que todos fazem parte e são retratados em uma narrativa brilhante pelos Racionais.

O surgimento das quebradas no Brasil se intensificou nos anos 50, após o processo de êxodo rural, vinda do homem do campo para a cidade de São Paulo. Sem condições de construir moradias nos centros urbanos da cidade, essas pessoas se vêm obrigadas a improvisar suas casas em regiões mais afastadas dos centros. Com isso esses complexos crescem sem investimentos em educação, lazer, cultura e saneamento básico, envoltos por violência e pobreza. Sem a presença do poder público nessas áreas surgem então os poderes paralelos, como o tráfico e a polícia mais violenta do mundo desde os anos 80 se torna então o único “braço” efetivo do estado dentro das comunidades.



Êxodo Rural. (Foto: Arquivo de web)


Em um contexto político e econômico nos encontrávamos em uma onda de governos Neoliberais como o de Collor, onde as grandes pautas que importavam a serem discutidas eram as dos grandes empresários, sem quaisquer olhos para ações de diminuição de pobreza, combatendo os problemas da desigualdade gritante da época com violência, através da polícia militar, que ainda praticava ações semelhantes ao período ditatorial como sequestros, mortes, toques de recolher, chacinas e torturas um verdadeiro genocídio assistido e declarado aconteciam comumente nas regiões periféricas.


Detentos no Carandiru. 06 de outubro de 1992. © 1992 Reuters/Jamil Ismail


 

Três acontecimentos foram cruciais para a criação do Sobrevivendo no Inferno: O massacre do Carandiru, comandado pelo então governador Luis Antonio Fleury Filho, deixando cerca de 111 detentos mortos.



Meses depois em 1993 quatro policiais militares dispararam em cerca de 50 crianças e adolescentes em situação de rua que dormiam nas escadarias da Igreja da Candelária no Rj, oito delas morreram e dezenas ficaram feridas. O episódio ficou conhecido como a Chacina da Candelária, uma triste dicotomia. E em um mês depois, o RJ é palco de outra tragédia orquestrada pela PM, cerca de 30 policiais militares encapuzados assassinaram 21 pessoas na chacina de Vigário Geral, nenhuma delas tinha relação com o tráfico.


A ligação entre todos esses acontecimentos não seria uma triste coincidência, mas significava um verdadeiro projeto de gerenciamento da miséria por meio da violência. O sangue inocente derramado nos mostrava que esse genocídio não se voltava apenas para os criminosos, como no Carandiru, mas também para a população preta e periférica do país.



 

Confira o que representa Sobrevivendo no Inferno para a música e a intelectualidade brasileira:


 

Por: Isabela Miranda.

Via: Lírica Marginal.


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